Pereira Coutinho corta investimento nas comunicações em Portugal

[Tuga]

"O empresário prevê investir 340 milhões na Grécia e no Brasil. A AR Telecom abandonou o projecto de cobertura do território nacional.

O futuro das empresas portuguesas está lá fora. É com esta convicção que o grupo de João Pereira Coutinho reorganizou o negócio das telecomunicações – que oferece Internet, telefone e televisão com tecnologia própria – e optou por procurar o crescimento além fronteiras, onde poderá investir mais de 340 milhões de euros este ano. Para Portugal, estão reservados apenas 20 milhões.

“Chegámos à conclusão de que era mais rentável investir no estrangeiro”, diz Miguel Martins, presidente da AR Telecom, em entrevista ao Diário Económico. “Um euro investido na área internacional é mais rentável que um euro investido em Portugal”, acrescenta.

Assim, o Brasil e a Grécia vão absorver, nos próximos dois anos, grande parte dos 800 milhões de euros que o grupo SGC destinou a esta área de negócio entre 2005 e 2010, disse. Em Portugal a ambição de cobrir o território foi abandonada, mas o negócio terá resultados operacionais positivos este ano.

O presidente da AR Telecom assume que a separação da TV Cabo da Portugal Telecom, que “criou dois grupos fortes”, foi o contributo decisivo para o reposicionamento da empresa. A fraca rentabilidade dos capitais investidos levou igualmente o grupo a não avançar, novamente, para o concurso de Televisão Digital Terrestre (TDT) – que criará uma nova oferta de televisão.

Sem este projecto, os planos para Portugal este ano ficam limitados a 20 milhões de euros de investimento, um valor menor que no plano de negócios anterior, e o foco da operação passa a ser regional – grande Lisboa e Porto (ver mapa). O objectivo, neste momento, “é ter uma operação equilibrada e a ganhar dinheiro”, refere. O valor do investimento mantém-se, mas mudam as prioridades.

O reposicionamento implicou a organização da empresa em quatro eixos. Portugal, Brasil, área internacional, onde a Grécia assume um papel de relevo, e no desenvolvimento da tecnologia em que o grupo tem apostado desde que entrou no negócio das telecomunicações.

Em 2007, as vendas da AR Telecom cresceram 59% para 46,4 milhões de euros e o resultados antes de impostos, juros, amortizações e depreciações (EBITDA) ficou nos 10 milhões negativos. Valores que representam 108 mil serviços vendidos, entre televisão, internet e voz. O objectivo é chegar ao ‘break-even’ do EBITDA este ano e ‘cash flow’ positivo em 2009.

Miguel Martins garante que a estratégia para se diferenciar da concorrência continuará a passar pela qualidade de serviços da AR Telecom, e pelo facto de não haver qualquer dependência da rede de terceiros. Uma mais-valia na hora de instalar a tecnologia sem fios num novo cliente ou no momento de reparar uma avaria.

Ser número um no Brasil e abrir capital em bolsa
A ligação de Pereira Coutinho ao Brasil não é nova, mas agora a aposta nas telecomunicações ganha maior relevo. Só este ano o grupo prevê investir cerca de 40 milhões de euros no maior país da América Latina. O objectivo é atingir a liderança do mercado na tecnologia MMDS, digital e de acesso sem fios, com que o grupo opera para fornecer serviços televisão, internet e telefone. A Acom, detida pelo grupo em cerca de 90%, cobre 3,3 milhões de lares, em 53 cidades e nove capitais de estado no Brasil. “Esperamos crescer cerca de 300% em número de serviços este ano”, refere Miguel Martins. A ambição não fica por aqui. No horizonte está a entrada de um parceiro no capital e a cotação em bolsa, daqui a dois ou três anos.

Grécia espera autorização para aposta de 300 milhões
Miguel Martins quer transformar a Grécia na base de expansão para os países envolventes – Bulgária e Turquia – onde também existem poucas infra-estruturas de telecomunicações e “a nossa tecnologia consegue fazer uma diferença muito grande”. A AR Telecom já tem parceria fechada, mas o nome do parceiro, que será minoritário, só será divulgado quando a empresa for constituída. Um processo que está dependente das entidades regulatórias. A AR Telecom terá que obter uma licença semelhante à que tem em Portugal para prestar telecomunicações via acesso rádio, sem fios de alta frequência. A expectativa do presidente é que, até final do ano, a empresa consiga ter a noção de quando poderá obter a licença. O investimento inicial no país ronda os 300 milhões de euros."

Fonte: http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/empresas/pt/desarrollo/1143496.html

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